segunda-feira, 13 de julho de 2009

A política e o Sr. Aurélio Buarque de Hollanda

Os escândalos políticos deste país estão colocando em xeque não só a credibilidade dos políticos (que há muito não anda bem das pernas), mas está comprometendo também a credibilidade daqueles que nos servem de referência e parâmetro. Como é o caso do senhor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
Para quem não o conhece, Aurélio foi um crítico literário, lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor e ensaísta brasileiro.
A preocupação com a língua portuguesa e o amor pelas palavras levou-o a estudar e pesquisar o idioma durante muitos anos com o objetivo de lançar seu próprio dicionário. Finalmente, em 1975, foi publicado o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, conhecido como Dicionário Aurélio.
Desde que me conheço por gente, o dicionário Aurélio tem sido usado como ferramenta para enriquecimento cultural e evitar tropeços na hora da escrita.
Entretanto, nos dias atuais, o nobre Aurélio deve estar se revirando no túmulo ao saber o que andam fazendo com o que ele tanto se esforçou para nos ensinar.
Um breve exemplo é o significado da palavra DECORO.
Segundo o dicionário Aurélio, a palavra DECORO significa: Respeito de si mesmo e dos outros. Decência; vergonha; dignidade.
Muito usada como parâmetro de compostura para nossos "nobres" políticos, a palavra faz parte do regimento interno de cada casa do Congresso Nacional brasileiro. Na constituição federal brasileira, no artigo 55, parágrafo 1º diz: "É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas (art. 53) asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas".
Segundo a Constituição, fere o decoro parlamentar:
- utilizar expressões que configurem crime contra a honra ou que incentivem a prática de crime;
- abuso de poder;
- recebimento de vantagens indevidas;
- prática de ato irregular grave quando no desempenho de suas funções;
- revelar o conteúdo de debates considerados secretos pela assembléia legislativa.
Diante disso, o decoro do Sr. Aurélio Buarque de Hollanda nunca esteve tão desmoralizado.
A última "cacetada" recebida pelo decoro do Sr. Aurélio foi dada pelo senhor José Sarney - tido por muitos como um dos principais nomes políticos do país.
Ele é a "bola da vez" nos escândalos políticos do país.
Segundo os principais meios de comunicação do país, o nobre presidente do senado está afundado até o pescoço em mais um escândalo - o que já não é novidade pra ninguém. Atos secretos, emprego de parentes, desvios de recursos milionários, entre outros tantos, foram incluídos no currículo do nobre senador.
Mas "feitos" como esses não são exclusividades do senhor JS.
São praticas já comuns ao Parlamento Nacional, que conta ainda com o pagamento de horas extras para funcionários durante um período em que ninguém trabalha...Castelos e mansões milionárias não declarados...utilização de apartamentos funcionais por familiares de senadores...empregos de parentes em empresas terceirizadas que prestam serviços ao senado para burlar o nepotismo...passagens aéreas, entre outras falcatruas.
Exemplos dados por aqueles que deveriam ser exemplos. Sem generalizar, é óbvio!
Ah...e isso tudo foi só este ano. (e olha que ainda estamos começando o segundo semestre).
E como sempre acontece: "ninguém sabe, ninguém viu"...
O último "bom exemplo" dado pelo presidente do Congresso é o desvio de recursos na fundação que leva o seu nome, que, segundo os meios de comunicação, recebeu R$ 1,3 milhão da Petrobrás para um projeto que nunca saiu do papel.
Aí eu te pergunto: como condenar um pobre que furta alimentos para saciar sua fome quando o exemplo que vem de cima - das "cabeças pensantes" deste país - são esses?
Mas para os "pequenos", a cadeia e a punição existem. São reais, enquanto que, para os de colarinho branco, não passam de coisas virtuais.
Mas tudo bem. Para julgá-los, existe o Conselho de Ética - o mesmo que absolveu Renan Calheiros e Edimar Moreira.
Enquanto mais um "julgamento" não acontece, Brasília torce pela queda de um outro avião, por uma tragédia ou outro fato que ocupe as manchetes e desvie a atenção da opinião pública, já que não tem nenhuma Copa do Mundo, Copa de Confederações ou uma grande final prevista. No máximo, a derrota do Corinthians por 3 a 0 para o Grêmio.
Mas não é só em Brasília que o decoro do Sr. Aurélio está em baixa. Tendo em vista que a palavra é bem abrangente, a falta de decoro se espalhou por todo o país.
Em nome do poder e do dinheiro, não se respeita mais nada, nem mesmo ao próximo.
A compaixão, a solidariedade, honestidade, respeito, moral e ética foram esquecidas em todas as esferas, não só na política. Foram substituídas pelo "eu faço", "eu aconteço", "eu posso" e "tudo é só pra mim".
Penso que está na hora de se rever os conceitos e da opinião pública fazer valer seu poder.
Esta na hora de se colocar em prática palavras como o amor ao próximo, compaixão, decência, dignidade.
Palavras que, tenho certeza, fariam muito bem à todos e, principalmente, à memória do Sr. Aurélio Buarque de Hollanda.
Ah! Só pra constar. Estas palavras vem antes de "falta de decoro" no dicionário....

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